quinta-feira, novembro 02, 2006

Das eleições passadas

O que se verifica, passadas as eleições, é que a atitude do eleitor, sendo ele interessado ou não pelo pleito, permanece a mesma das outras eleições.
Aqueles que se desinteressam por política, têm tal opinião afirmando que tudo vai continuar como está, ou que a política não presta. Ambas as afirmações andam erradas, pois as mudanças não ocorrem somente em revoluções, mas também na vida cotidiana. Por exemplo, temas como a cláusula de barreira e a fidelidade partidária entraram em pauta nos últimos anos, e, ambos os temas, modificam não só o cenário político, mas também o modo como as matérias são votadas, conseqüentemente alterando-as. Dizer que a política não presta é besteira, pois há de se ir exigindo reformas estruturais para impedir a corrupção, além de sempre haver um candidato "menos pior" a ser votado. Com o tempo e a crítica necessária, o negócio melhora, é certo.
Os eleitores que se interessam por política, em sua maioria, tratam o interesse de modo maniqueísta, polarizando os partidos e políticos: o partido que apóiam representa o bem, a luz, a razão; o partido contrário, a perdição, o caos, o erro; e assim, pensam esses eleitores, a política se resumiria em colocar seu partido no poder e defendê-lo. Também é bobagem tal pensamento, pois isto não é possuir formação política.
O verdadeiro interesse político só se dá quando o senso crítico se mantém, independentemente do partido no poder. O eleitor deve manter-se informado e exigir o que imagina correto, sempre cobrando uma atitude responsável de seu representante; caso este não cumpra o acordado, deve ser punido nas urnas. Enfim: cores partidárias e desinteresse político devem ser combatidos, para cada um sentir-se cidadão responsável por seu país.

terça-feira, outubro 03, 2006

"Lá e de volta de novo"

Caros amigos, como vão!? Em primeiro lugar, peço desculpas pela demora do post - estou fazendo uma série de cursos pela empresa e acabo não tendo tempo pra atualizar! Mas vamos lá. Abaixo, uma pequena crônica - se é que isso é uma crônica - que foi sendo escrita em minha cabeça durante esses dias de aeroportos, viagens etc etc.
:: Crônica de um viajante ::
Andando pelo aeroporto, na segunda-feira, percebi algo interessante. Mesmo após o acidente - o horrível acidente - com aquele avião da GOL, nada aparentemente havia mudado. Os humanos que não podem mais parar, que não podem mais pensar em si mesmos, andavam lá, taciturnos, preocupados, cansados. E preocupados não com o fato de que um avião havia caído, mas sim, que têm contas pra pagar, reuniões pra fazer, coisas pra comprar, pessoas pra demitir.
Isso mostra que hoje temos uma preocupação muito séria com valores diferentes. Não quero aqui dizer que todos deveriam não viajar no dia após o acidente, aliás, na atual estrutura da sociedade, coisas desse tipo são impossíveis e impensáveis, mas sim que as preocupações principais das pessoas hoje estão muito distorcidas.
Outro exemplo: andando num shopping, observava que as pessoas preocupavam-se com o que comprar, onde comer, onde gastar. Pensei na seguinte coisa: e se eles recebecem, subitamente, a notícia de que em 1hr o mundo iria acabar, o que fariam? Estariam eles satisfeitos com a vida que levaram? Digo, acho que hoje as coisas estão tão distorcidas; sinto que as pessoas estão cada vez mais distantes umas das outras, preocupando-se mais em cativar dinheiro e afins em vez de cativar pessoas.
Abraços

sábado, setembro 16, 2006

Olhares

Ele no ponto. Ela no ônibus. Os olhares, até então perdidos, se encontram. E sem saberem como, ali ficam...parados... dois olhares... apenas se olhando. O dela descansado, sem compromisso. O dele preocupado, à procura. Mas ao se cruzarem, tudo muda... o dela torna-se atento e o dele terno, suave. Um tipo de olhar diferente é o deles. Um olhar que só procura o outro olhar e que não vê mais nada; rosto, corpo, roupas... nada disso importa, pois o que fica, realmente, é o olhar. Um olhar maduro o dele, seco, cansado. Já o dela é jovem, tenro, sonhador. Um mundo a descobrir se revela nesse olhar, que pode, e deve, ter uma dona ainda mais encantadora. Um rosto angelical, com lábios macios e bochechas coradas, quem sabe... mas não, nunca saberei porque o olhar dele só procurou e achou o olhar dela, mais nada... e isso é o bastante para encher esse peito amargo: só esse olhar... É uma pena, mas aquele olhar se foi... durou o tempo bastante para se tornar inesquecível. Silencioso e simples, quase ningúem que estava em volta percebeu o que havia acontecido naqueles breves instantes, como aquilo era importante para dois seres, ou pelo menos para esse um. Só esse olhar, que por poucos segundos aconteceu, que poucos segundos durou, teve a capacidade de aliviar esse peito, esse corpo cansado, esse olhar duro, dando ao seu detentor um semblante mais plácido, sereno, além dos outros que se vêem ao seu lado. Quanto tempo durou? Menos de 10 segundos. Por quanto tempo ficará guardado? Por, pelo menos, uma vida. Como eu sei disso tudo? Simples: eu sou o coração desse olhar...

quarta-feira, setembro 06, 2006

Os atrasos, o conto

Senhores, as desculpas pelo(s) atraso(s), que este que vos fala sempre demora demais para escrever algo, e sempre acha que seus escritos são de exigir correção. Então, venho por meio desta para tirar um pouco do atraso e apresentar um projeto de conto. Abraço!


“Participa da vida!” – ela me disse.
“Por que, se vou morrer?”
“Então, participa da morte!”

“Também não, que é coisa insossa. Em termos de morte, avançamos pouco desde o Osíris egípcio e a mônada jaina...”
“Infantil!”
“Idealista!”
E, numa dessas, ela ficou grávida, e eu, casado. Não que seja ruim a idéia da relação monogâmica, estável, sancionada pela lei e igreja, mas é que a coisa não se encaixa comigo. Aceitei-a, afinal, de sacanagem já basta o mistério da existência. A barriga dela foi crescendo, assim como as contas e as brigas. Aumentei minha carga horária e tristeza, mas poupo o leitor da descrição desta, pois ele próprio tem a sua para aturar. O fato é que o guri nasceu, saudável, sem defeitos: mais um animalzinho a se debater pela vida, para depois morrer.
“E você, que se debate pela morte, e nem vive?”
“Por que, se vou morrer?”
E se calava, furiosa. “Infantil!”, devia estar pensando. Mas dizia, para se acalmar: “Sempre assim, esse diálogo repetitivo, não levando a lugar algum...”
“Pois a vida me sabe a isso...”


Já falei do guri? Se dedicava a ele, ela, que encontrou na criança os meus carinhos perdidos; cresceu bem, inteligente, curioso. Sem muita fantasia, pois eu fazia questão de as quebrar todas. Já sabia ele que cegonha não trazia filhos, nem coelhos traziam ovos. O problema foi o catecismo, as dúvidas do guri sobre Deus. Por mim, ele não se batizava, nem comungava com Jesus; mas ela, sempre, me fez aceitar o fato. E as dúvidas crescendo, assim como a criança. Neguei tudo, do princípio ao fim, o alfa e ômega divino. E, à medida que ela me olhava de revés, à medida que a mãe pedia para o filho não me escutar, o prazer pelo proibido aumentava, tanto em mim quanto nele. E lá fiquei eu, a recitar meus versos satânicos.
Acho que aí foi o fim.


O fim, porque meses depois nos separamos. Não que a discussão sobre a existência divina tenha sido a causa, mas é reflexo dela. O leitor que pense o que nos separou, que sou também leitor da situação. Falando em leitura, recebi uma carta, dias atrás (ela sempre gostou das epístolas):
“Participa da vida! Me escreve!”
Acabo de inserir, em uma folha em branco, “Por que, se vou morrer?”. Deve bastar.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Tolkien


"You shall not pass!"
Essa frase é muito conhecida pelos admiradores de J.R.R Tolkien. Outro dia, eu estava revendo os filmes do "Senhor dos Anéis" e pensei em escrever alguma coisa sobre. Acho que algumas vezes, há uma certa injustiça com a obra do escritor. De fato, a narrativa de seus livros é demasiado lenta e muitas vezes cansativa, mas tomo a liberdade de chamá-lo de gênio. Gênio pois criou um mundo, religiões, mapas, alfabetos - inclusive fonéticos -, poemas, músicas, mitos etc; gênio pois soube criar tudo isso, todo esse novo a partir de coisas do nosso mundo, nossas religiões; a obra do escritor inglês é completa. Nela, podemos ver quão vasto é o conhecimento de Tolkien em mitologias, pois ele usa um pouco de cada uma pra criar a sua. Creio que é no Silmarillion - que ainda não li - que isso fica mais evidente, mas mesmo no Senhor dos Anéis há um pouco.
Gosto do Tolkien pela ousadia e pela autoridade com as quais ele criou a Terra Média. Ele pensou muito bem em todos os aspectos, tanto que é possível acreditar que "isso aconteceu um dia". Tolkien fez a Terra Média e seus povos terem início e evoluírem, como o nosso mundo "real" mesmo; os elementos tolkianos não brotaram do nada.
Professor de Anglo-Saxão (que, pra quem não sabe, era o idioma falado na Inglaterra, depois da invasão dos Jutos, Anglos e Saxões. Uma língua basicamente baseada em sons e grunhidos. O inglês que hoje conhecemos é uma mistura de Latim, Anglo, Saxão, Germânico e Francês.), Tolkien criou idiomas lindíssimos - e complexos. Os nomes até soam um pouco como os nomes e palavras dos povos bárbaros (Arathorn, Aragorn, Gorgoth, Gollum, Fangorn).
É esse tipo de coisa que dá mais verossimilhança às coisas, mesmo que no fundo elas sejam apenas uma mistura de todos os nossos mitos, sonhos, desejos, medos e atitudes.
Recomendo a leitura dos livros de Tolkien. É uma boa leitura e um bom exemplo de qualidade e seriedade no que se faz.
Abraços

segunda-feira, agosto 14, 2006

Dia Dos Pais


Pois é, fino leitor, esse dia dos pais teve um quê de diferente, você não achou? Bom, pra mim foi um pouquinho diferente. Como nos outros anos, pais foram presenteados, homenageados e vangloriados. Porém, nesse ano não foram anotadas gigantescas filas em restaurantes da cidade e talz. Existiam as filas sim, claro, mas não como antes. Reflexos, talvez, das promessas de um grupo já nosso conhecido que ultimamente vem pululando as manchetes dos jornais paulistas. É isso aí, meus amigos, o PCC pode ter estragado o feriado não só dos pais que queriam comemorar, como também de outros pais que queriam ficar tranquilos em suas casas, e de outros cidadãos que nem pais são!
Esse blogueiro que agora vos escreve estava decidido a levar seu querido pai a passear e conhecer um novo integrante da família, um bebezinho recém-nascido, filho de uma prima. Assustado com o jornalismo da sexta, que noticiou que esse grupo faria ataques no fim de semana, decidimos ficar em casa. O engraçado (?) é que alguns deles foram soltos pelo tal do "induto" de dia dos pais, para passarem o feriado ao lado dos seus respectivos progenitores. Agora, o engraçado mesmo, é que os pais de alguns liberados já morreram há longos anos... um até foi vítima do próprio filho!
Na sexta, um amigo comentava: "putz... mó mancada. Tava no trem hoje e um cara tava comentando sobre o induto, daí emendou essa: 'Porra, eu não sou bandido e não vou passar o dia dos pais com meu pai: eu vou ter de ir trabalhar. Isso é justo?" Daí eu me pergunto: é justo isso?
Ultimamente fui tomado por um sentimento de paternidade incrível! Não sei porquê, de verdade, mas tive notícias de muitos recém-nascidos ultimamente, talvez seja isto. Acho que 4, na verdade: Pedrinho; o filho da minha prima; o filho do Denílson; o filho da Jane (esse eu segurei nos braços!). Acho que isso despertou em mim um quê de preocupação com o mundo que está sendo deixado para as gerações futuras, para os filhos dos pais atuais...não somente com relação à segurança, mas também com a natureza e com os valores humanos... logo eu, que tenho uma vontade incomensurável de ser pai e babar nos filhotes e chorar e rir com eles, fico agora na dúvida: será que vale a pena dar ao mundo um rebento meu? Eu ainda acho que sim, pois esse rebento ´pode ser uma semente, ou mesmo um fruto da mudança...
Abraços!

quarta-feira, agosto 02, 2006

Deus e o Herói

Deus e o HeróiEm primeiro lugar, me perdoem os caros leitores pela demora - essa semana está complicada aqui no trabalho e só consegui uma brechinha agora, pra escrever!

Assisti Super-Homem, o Retorno, no sábado. Achei bacana, sinceramente. As pessoas têm dito que o filme é fraco, que não é tão bom, que não sei o que, que não sei o que lá. Creio que esse comentário nasceu pois o filme não é porradaria o tempo inteiro; há uma história ali pra ser contada, e isso é bem feito. Durante o filme, flagrei-me pensando em algo: seria o Super-Homem uma metáfora de Deus? Vejam só (Shamir, por favor, corrija-me caso fale alguma bobagem, afinal, nosso especialista em Quadrinhos e Mitos comparados é você!):

- ele é extremamente forte, praticamente imortal (esqueçamos a Kriptonita);
- é quase que onipresente, dada a sua velocidade;
- suas intenções são de fazer o bem, proteger a terra e ajudar a todos;
- é quase que onisciente também, visto que escuta tudo (vale mencionar uma cena no filme em que o Super-Homem está com Lois muito alto, no limite entre céu e o espaço. Olhando pra baixo, diz ("eu escuto tudo...").

A mim me parece que o criador do Super-Homem se perguntou, ao criar a personagem: "como seria Deus personificado, como seria o Jesus moderno"? O Super-Homem assume características e ações dignas de Deus e do Messias. Sempre está disposto a morrer pelo mundo, mesmo que as pessoas tenham uma mentalidade egoísta e idiota; é "bom" com todos; trabalha como qualquer outro - assim como Jesus fez -; etc etc etc. Não sei se viajo muito, mas em mim ficou essa impressão.

Talvez todo herói - principalmente de histórias em quadrinhos - seja uma personificação dessa força maior chamada Deus; como se Ele um dia acordasse e dissesse: "vou dar um jeito nessa bagunça que tá lá embaixo!".

Abraço!

Em tempo: ouvir aquela musiquinha clássica na abertura foi muito bacana!!